terça-feira, 6 de outubro de 2015

A paisagem mudara


“Bopp (…) voltou a se ocupar com a paisagem. Os campos pareciam ser sempre os mesmos. Os mesmos animais. As mesmas poucas e pequenas casas. As mesmas pessoas. Bopp se lembrou de que, quando era pequeno e o levavam a viajar de trem, seu pai o fazia contar as vacas que via no pasto. Isso o entretinha a viagem toda. Mas também o angustiava, porque ele não conseguia enumerar todas e se perdia na soma. Era só terminar de contar as que estavam mais próximas à linha do trem que já perdia de vista as que ficavam em segundo plano. Se começava a contagem pelas do fundo, não obtinha melhor resultado: quando chegava às da frente, a frente não era mais a mesma. A paisagem mudara. O trem já tinha andado e deixado aquelas vacas para trás. Então ele se desesperava. Queria recomeçar do zero, mas não era mais possível, não tinha como fazer o trem voltar. Quando se perdia mais de uma vez, quando se perdia duas ou três vezes, ele, que até aquele instante ria com seu riso livre de menino, se botava a chorar. Chorava alto porque não sabia mais por quantas vacas tinha passado e queria provar ao pai que era capaz de contar todas as vacas que visse na estrada. Mas nunca conseguia. Nessas horas, seu pai sorria e o abraçava apertado. Dizia para fingirem que a viagem começava naquele ponto em que estavam e propunha que os dois reiniciassem juntos a contagem das vacas. Quando eles se perdiam ou quando não eram rápidos o bastante para contar todas, os dois riam, Bopp chorava de tanto rir, e, quando davam por si, já tinham chegado ao destino.”

(Verônica Stigger, Opisanie Swiata.
Cosac Naify Editora, 2013)  

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