sábado, 9 de janeiro de 2016

Tentativa de resenha: O livro dos sonhos, Jack Kerouac


A proposta é simples: escrever os sonhos da forma como eles vêm pela manhã: fragmentados, esmaecendo-se. Kerouac queria ouvir o inconsciente através de sua própria linguagem, sem a edição natural da fala e do pensamento. Acordava e, ainda sonolento, descrevia em sua agenda as imagens vistas durante o sono. Esse impulso resultou em O livro dos sonhos, obra de textos curtos e, por vezes, inacabados – como as próprias visões noturnas o são. As imagens se misturam e não há qualquer esforço do autor em se fazer entender. Por isso, a linguagem é o grande trunfo deste livro, a linguagem típica da geração beat: espontânea e fluida. Vários personagens de suas outras obras – On the road, Os subterrâneos – reaparecem em novas situações, sem nenhuma explicação especial, a não ser a de que o espírito não descansa, o cérebro se agita, a lua some e todo mundo tapa a cabeça com o travesseiro, usando touca de dormir, como afirma o autor na introdução. O grau de libertação através da linguagem atinge um extremo e é impossível, enquanto escritor, não se deixar contaminar. Extremos indicam caminhos.

Porém, o grande problema da obra é que, devido às narrativas serem curtas e desconexas, não há criação de vínculo efetivo com o leitor, o que prejudica a permanência na leitura. Chega um ponto em que o entendimento da proposta estética se consolida e não há muitas razões para seguir lendo. No entanto, para aqueles que não se importam em saltar páginas, vale a pena tê-lo sempre por perto, acordar pela manhã, abrir numa página qualquer, misturar seus sonhos aos do autor. Quem sabe, fazer seu próprio registro.



O livro dos sonhos
Jack Kerouac
1961
L&PM Pocket
250 páginas

Avaliação: 3/5

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